terça-feira, 31 de agosto de 2010

E o amor se manifesta...

Eu emburreci. E se você me ama menos por causa disso, é melhor ir descendo do barco. Porque minha burrice vem de querer você, mocinha. De eu tocar em seus cabelos todos os dias e sentir neles cheiro de problema. Problema bom. Já ouviu falar em problema bom? É uma coisa assim, que me consome os dias, me deixa irritadiço, mas no fim das contas quem eu seria se não sentisse essas coisas? Ai de mim se não sentisse essas coisas. Fiz pra você um poeminha. Mas eu acho que nunca vou te entregar, porque acho que ele ficaria menos bonito. O sentimento dado vai ficando menos intenso, como a força das palavras quando são lidas de qualquer maneira. E se bem te conheço, você iria ler de qualquer maneira. Assim, sem pausa, vírgulas, sem a entonação e o sentimentalismo que eu entreguei. Mesmo que eu declamasse não ia adiantar muito, seus ouvidos são péssimos. E você se distrai com facilidade demais. Mas que posso fazer, mocinha? Se em você eu tenho a minha melhor graça, a minha melhor falha, o meu mais nobre erro? Você é maluca assim, contraditória assim, e acha que o tudo é sempre suspeito. Mas dia desses eu emburreci. E se você me quer menos por causa disso, é melhor ir sonhando menos. É melhor ir querendo menos ser feliz. Porque nunca que você vai continuar ao lado de alguém exatamente igual ao dia que você conheceu. As coisas mudam, mocinha. Eu mudei. Mas o meu amor só vai mudando de frasco, de cor de água. Os cheiros dos outros você percebe melhor, porque não está acostumada. Mas o meu é o único que te faz lembrar das coisas necessárias na vida, e faz ferir suas narinas. Você não percebe, mocinha. Você não percebe. Mas eu emburreci. Na madeira, no cimento, na poeira. Um cheiro perdido no ar. E a essência, essa fica ainda mais longe... bem fraquinha bem fraquinha.

Anne Danielle Magalhães