domingo, 7 de fevereiro de 2010

*Mário de Andrade

Por Marcos Vinicius Gomes*

O escritor Mário de Andrade (1893-1945) foi um ilustre brasileiro, não somente por sua inteligência e cultura eminentes, mas também por ser um dos destaques da 'Semana de Arte Moderna' de 1922. Se pudermos eleger um representante que personifique fielmente o espírito reinante naquele movimento, Mário de Andrade estará com certeza entre os escolhidos e presumivelmente será unanimemente o vencedor.

O modernismo que impulsionou a criação da 'Semana de 22' tinha como meta principal romper com o antigo modelo europeu de cultura, que influenciava nossa arte, música e literatura. E, para que ocorresse esse rompimento, vários nomes como Cândido Portinari, Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade e o próprio Mário foram importantes na tentativa da construção de um sentimento autônomo para a cultura nacional, nos diversos setores da sociedade. O referencial - ou um dos referenciais do sentimento de brasilidade - alicerçado na observação de nossa história d povo, chamou-se 'Manifesto Antropofágico' (escrito por Oswald de Andrade) e pregava o 'autoconsumo' em todas as possibilidades culturais e artísticas, rejeitando o passado 'colonial-cultural'.

Mário soube, como nenhum outro, compor uma obra que reunisse todas essas metas almejadas e que de certa forma foram alcançadas por ele, por meio de uma linguagem que se aproximava do falar popular. Na literatura criou um estilo de construção sintática inovador, usou e abusou de neologismos (palavras novas), atingindo em parte a suposta 'língua brasileira'. Esses estilos de vanguarda são encontrados em sua prosa em livros como 'Amar, verbo intransitivo', em 'Macunaíma' e em 'Os filhos da Candinha'. No primeiro livro, temos uma visão crítica sobre a demagógica postura da elite paulistana em relação à sexualidade adolescente; no segundo, temos a narração do anti-herói Macunaíma, numa reunião dos atributos encontráveis (presumivelmente) na sociedade brasileira. Já no último, encontramos uma série de crônicas onde Mário expõe pontos de vista sobre assuntos variados, utilizando a 'língua brasileira' em algum textos.

Já na poesia, Mário de Andrade compôs belos versos sobre a cidade de São Paulo, sua paixão. Pode-se dizer aqui, sem exagero, de um caso de amor e ódio, onde o autor intercala o amor pela metrópole, sem deixar de ressaltar suas contradições mais simples. E este sentimento paradoxal é encontrado em muitos de seus versos.

Com um espírito incansável, Mário foi também estudioso da cultura popular brasileira. Pesquisou as danças, ritmos musicais variados em viagens pelo Brasil, que ficaram registradas em obras como 'A música e a canção Popular no Brasil' e 'O samba rural paulista' (ensaios).

Poeta, romancista, folclorista, cronista, enfim um estudiosos do país e de sua cultura, Mário de Andrade foi, juntamente com os precursores do modernismo, um apaixonado propagador do sentimento de brasilidade - aquele sentimento nascido do conhecimento de nosso potencial como país. Sentimento esse em constante estado de semi-letargia, causado talvez por forças contrárias, agora um tanto quanto poderosas nestes tempos atuais.

*Marcos Vinicius Gomes é Professor de Língua portuguesa e inglesa, em São Paulo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário